Por: Fred Góes
Considerado um dos poetas mais influentes e respeitados do país, reconhecido nacional e internacionalmente, ícone da literatura regional, Thiago de Mello tem obras traduzidas para mais de trinta idiomas. Preso durante a ditadura (1964 – 1985), exilou-se no Chile, encontrando em Pablo Neruda um amigo e colaborador.
No exílio, morou na Argentina, Chile, Portugal, França, Alemanha. Com o fim do regime militar, voltou à sua cidade natal.
Durante uma década a poesia do poeta de Barreirinha foi suporte para a Comissão de Artes do Boi Garantido chamar o olhar do mundo para as causas do meio ambiente.
No livro “Amazônia — A menina dos olhos do Mundo”, de 1992, a Comissão de Artes bebeu na fonte da visão poética de Thiago sobre a realidade dos povos da floresta, do cotidiano caboclo da Amazônia.
Transformamos as preocupações do Poeta em discursos consistentes e de extrema sensibilidade sobre os cuidados que devemos ter com a Amazônia. Tiramos a venda dos olhos e, durante 10 anos, soltamos nossa voz, alto e em bom-tom, na arena do Festival de Parintins, em favor da PRESERVAÇÃO da AMAZÔNIA.
Thiago de Mello era um amigo querido, um cidadão do mundo sempre preocupado com o bem-estar e o futuro da humanidade, sentimento que deixou impresso nos seus ESTATUTOS DO HOMEM.
Ainda no Bumbódromo de madeira, Thiago, trazia os seus amigos jornalistas, intelectuais, globais para divulgar o nosso Festival Folclórico e nossa cidade. Em silêncio, sem alardes.
Apesar da fama, Thiago era um ser humano que nunca escondeu as suas vicissitudes. Gostava da simplicidade do dia a dia do povo humilde dos beiradões do rio, mas não admitia banalidades nas suas relações.
Amante da cultura popular, era fã incondicional das Pastorinhas, não abria mão da presença do Gudu, criador do Pastoral de Parintins, nas rodas de amigos na casa do Antônio Faria.
Como torcedor, não escondia o amor pelo Garantido. Em reunião na casa de Antônio Faria, o poeta relata que, olhando as pirâmides no México, de repente se ouviu cantando “Anuncie Boi na Cidade”.
Thiago era um poeta com extrema sensibilidade musical, revelada com preciosismo na sintaxe da estrutura métrica de sua obra ou em cantorias que participava com parceiros e amigos.
Em casa de Antônio Faria, eu e Léa cantamos algumas músicas e, de repente, fomos surpreendidos com toda essa sensibilidade e a generosidade do grande poeta que surge com uma gaita e toca, em tom sublime, “Gente Humilde” de Vinícius de Moraes e Chico Buarque de Holanda.
Thiago tinha forte ligação com Parintins e muito contribuiu com os movimentos culturais da cidade. Essa ligação é revelada no poema “Canta, Canta Parintins” que está no seu livro “De Uma Vez Por Todas”, de 1991.
Tive a alegria de musicar o poema “Canta, Canta Parintins” e “Monólogo do Índio” além de ter dividido com o grande poeta e Sidney Rezende a parceria na música “O Segredo do Rio”, onde Thiago intervém com esse verso
Magnífico: “…e o meu coração de menino leva a luz da madrugada pra quem atravessa o rio ou segue na caminhada”.
Thiago de Mello atravessou o rio com a claridão de sua própria luz e nos deixa iluminados pela sua poesia.
Thiago de Mello 31.03.1926 – 14.01.2022
Fred Góes. Jornalista formado pela faculdade de Comunicação Social da Fundação Casper Líbero de São Paulo, trabalhou em grandes jornais como “O Diário Popular” e “Jornal de Tarde”. Recebeu, juntamente com uma equipe de 35 repórteres, o Prêmio Esso de Jornalismo, pela cobertura do incêndio do Prédio Joelma. Fred também tem participação expressiva na história da cultura de Parintins – Musico, Compositor, Poeta, Pesquisador, ex-presidente e coordenador da comissão de arte do Boi Garantido.